rever
A palavra “rever” é palíndromo: lida ao contrário, é a mesma. No entanto, como percebemos nas obras, o familiar torna-se estranho; o passado, presente; a técnica, memória. O rever de Rochele afirma, nesse trajeto que busca a verdade, a impossibilidade da duplicação – nada jamais se repete. Não se trata apenas da fotografia e sua definição proposta por Roland Barthes, “isso foi”. Na duração da própria vida, nada se mantém como parecia ser, nunca se pode afirmar que qualquer coisa ou pessoa é ou foi, pois o “ser” jamais está sujeito a confirmação. Se nos aprofundarmos nessa questão, será preciso fazer indicar que sua obra opera um jogo de sentido artístico que deseja, no limite, resistir ou mesmo anular a própria possibilidade da tautologia, forma canônica da arte conceitual.
A condição contemporânea dessas fotos e de sua experiência é operada, sim, como palimpsesto, forma caracterizada pela convivência conflituosa de múltiplas camadas–de imagens, de informações, de experiências–em movimentos de aparecimento e apagamento mútuos. Vemos, na exposição, diferentes qualidades de sentido sendo criadas, imbricadas e destruídas desse modo. A cada obra, superpõem-se romanticamente familiar e estranho, forma e ideia, texto e imagem; real, representação e simbólico.
A obra de Rochele Zandavalli busca instaurar esteticamente a dúvida e o reprimido.
Rever fabrica a diferença como solução para a duplicação e seu caráter mortuário. É na inadequação entre celebrar e lamentar que a criação da artista opera. Vemos o desejo pitoresco pelo outro, o luto de sua ausência, e mais: a
noção de que a verdade se constitui no desejo vivo que motiva cada encontro.
Trechos do texto para catálogo da Exposição, no Santander Cultural, 2012. Autoria de Cezar Bartholomeu, curador, pesquisador e crítico em História da Arte.